sábado, 4 de janeiro de 2014

O Padrão

Padrão

Não se pode cansar de dizer o quanto Fernando Pessoa é genial e o quanto sua obra é vasta. No entanto, ao se juntar a capacidade do autor com um tema excelente, a história de Portugal, saiu Mensagem. Sempre digo que tenho pena de quem não fala português. Somos poucos nativos e muito poucos que aprenderam. E todo o resto do mundo, não pode nem imaginar o que está perdendo. Como está escrito um pouco depois, também na segunda parte da obra é que "mas o que a eles não toca é a magia que evoca o Longe e faz dele história."
Mensagem conta a história de Portugal. A primeira parte, descrevendo o escudo português, Fernando Pessoa vai contando a história de Portugal até a época das grandes navegações. Na segunda parte, O Mar Português, ele faz uma homenagem aos principais navegadores, os quais não eram simplesmente gente ignorante que o rei conseguia obrigar a entrar no barco atrás do dinheiro, mas eram pessoas que tinham estudado muito e eram, muitas vezes de famílias importantes de então. A terceira parte fala do futuro previsto pelo autor, o qual imaginava uma era onde Portugal voltasse a ser a nação mais importante do globo. Grande parte da teoria dele vem de suas doutrinas, que eu explico quando colocar alguma coisa dessa parte.
O Padrão é a homenagem à Diogo Cão, navegador que descobriu como chegar até o sul da África ao perceber que muitas vezes era necessário navegar ao laro, sem ver a terra. E isso só era possível pelo sistema de navegação e localização desenvolvido pelos navegantes. Apreciem e pensem sobre o significado.

Padrão - Mensagem - Fernando Pessoa

O esforço é grande e o homem é pequeno.  
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei  
Este padrão ao pé do areal moreno  
E para diante naveguei.  

A alma é divina e a obra é imperfeita.  
Este padrão sinala ao vento e aos céus  
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:  
O por-fazer é só com Deus. 

E ao imenso e possível oceano  
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,  
Que o mar com fim será grego ou romano:  
O mar sem fim é português. 

E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma  
E faz a febre em mim de navegar  
Só encontrará de Deus na eterna calma  
O porto sempre por achar.  

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Fábula dos Dois Leões

Fábula dos Dois Leões


Nesse ano novo pretendo retomar minhas publicações. Certamente ainda não visitei todos os poetas e autores da nossa literatura, mas tem sido bem difícil encontrar novos, assim que vou começar a repetir autores, embora não obras.
Acho que essa crônica do Stanislaw Ponte Preta vem bem a calhar com o ano novo. Todo ano reclamamos das mesmas coisas (os políticos no caso), e todo dia de ano novo achamos que tudo vai mudar. Até agora, se mudou, nem deu para notar. Se tivesse sido publicada como nova essa semana, ninguém nem notaria.

Fábula dos Dois Leões - Stanislaw Ponte Preta

Diz que eram dois leões que fugiram do Jardim Zoológico. Na hora da fuga cada um tomou um rumo, para despistar os perseguidores. Um dos leões foi para as matas da Tijuca e outro foi para o centro da cidade. Procuraram os leões de todo jeito mas ninguém encontrou. Tinham sumido, que nem o leite.

Vai daí, depois de uma semana, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas da Tijuca. Voltou magro, faminto e alquebrado. Foi preciso pedir a um deputado do PTB que arranjasse vaga para ele no Jardim Zoológico outra vez, porque ninguém via vantagem em reintegrar um leão tão carcomido assim. E, como deputado do PTB arranja sempre colocação para quem não interessa colocar, o leão foi reconduzido à sua jaula.

Passaram-se oito meses e ninguém mais se lembrava do leão que fugira para o centro da cidade quando, lá um dia, o bruto foi recapturado. Voltou para o Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde. Apresentava aquele ar próspero do Augusto Frederico Schmidt que, para certas coisas, também é leão.

Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para as florestas da Tijuca disse pro coleguinha: — Puxa, rapaz, como é que você conseguiu ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com essa saúde? Eu, que fugi para as matas da Tijuca, tive que pedir arreglo, porque quase não encontrava o que comer, como é então que você... vá, diz como foi.

O outro leão então explicou: — Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartição pública. Cada dia eu comia um funcionário e ninguém dava por falta dele.

—  E por que voltou pra cá? Tinham acabado os funcionários?

— Nada disso. O que não acaba no Brasil é funcionário público. É que eu cometi um erro gravíssimo. Comi o diretor, idem um chefe de seção, funcionários diversos, ninguém dava por falta. No dia em que eu comi o cara que servia o cafezinho... me apanharam.