Para inaugurar a literatura portuguesa, eis um poema de um dos maiores - na minha opinião o mais genial - poeta de língua portuguesa, Fernando Pessoa. Acho que pode-se até dizer que Pessoa é o maior poeta da escola modernista. Há muita coisa a dizer sobre ele. Desde sua primeira obra e obra prima, Mensagem, poema que, espantosamente ganhou segundo lugar em um concurso, até as enormes obras de seus heterônimos, como o soneto a seguir, escrito sob o heterônimo de Álvaro de Campos. O heterônimo, que o próprio criador dizia não ser ele mesmo mas outra pessoa nele, e com quem ele conversava no espelho, juntamente com Alberto Caeiro e Ricardo Reis, outros heterônimos. Esses três são os mais famosos dentre as criações de Fernando Pessoa. Para eles, o poeta tinha até escrito biografias e cada um tinha uma forma diferente de escrever, bem diferentes entre si e diferentes do estilo de Fernando Pessoa, ele mesmo. Álvaro de Campos era engenheiro que tinha estudado e vivido na Inglaterra, além de ter feito várias viagens descritas por ele mesmo. "Ah, um soneto..." fala ao mesmo tempo do coração e do próprio ato de se fazer um soneto. É um dos poemas mais emblemáticos tanto do heterônimo quanto de Fernando Pessoa.
Ah, um Soneto...
Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...
No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas — esta é boa! — era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação? ...
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