domingo, 18 de novembro de 2012

O sol é grande, caem co'a calma as aves

Francisco Sá de Miranda foi o introdutor do soneto na forma clássica além dos versos decassílabos em Portugal. Depois de ter estudado em Lisboa, viajou para a Itália onde teve contato com inúmeras personalidades literárias do tempo e de onde trouxe a nova estética de poesia em 1526. Há entre ele e Gil Vicente uma rixa famosa da qual não se sabe bem os motivos. Embora ele tenha sido à sua época menos apreciado do que o rival, é certo que foi o grande influenciador de Camões e foi sua moda literária que se estabeleceu e continuou na língua portuguesa.



O sol é grande, caem co'a calma as aves - Sá de Miranda



O sol é grande, caem co'a calma as aves,
do tempo em tal sazão, que soe ser fria;
esta água que d'alto cai acordar-me-ia
do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
qual é tal coração qu'em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d'amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mestura,
também mudando-m'eu fiz doutras cores:
e tudo o mais renova, isto é sem cura!

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