Carlos Drummond de Andrade foi o último grande poeta brasileiro. Ou simplesmente o último poeta brasileiro. Foi o grande expoente da terceira geração do modernismo e morreu em 1987. Seu poema mais famoso, "no meio do caminho tinha uma pedra" não é nem o mais bonito, nem o mais poético, nem o mais filosófico, nem o mais profundo. Acho que é o mais fácil de decorar, o mais clichê, talvez. O poema a seguir também não é o mais nada. É simplesmente um punhado de versos de amor bonitinhos, leves e quase ingênuos. Bom para ler e mais ainda para se surpreender no meio dos pesados e/ou filosóficos poemas do autor.
O tempo passa? Não passa - Carlos Drummond de Andrade
O tempo passa ? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.
O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.
Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.
O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.
São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora.
E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade.
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