sábado, 15 de dezembro de 2012

O Palácio da Ventura

Antero de Quental é um dos maiores nomes do Romantismo português, e em especial, da poesia romântica. Assim como em sua vida conviviam seu militantismo socialista fanático e seu distúrbio bipolar, também seus poemas tem duas fases, a primeira, socialista militante, e a segunda da metafísica desesperançada e perdida. Essa segunda fase é considerada pelos estudiosos a de maior valor artístico. Mas foi a riqueza e importância de sua família que lhe permitiram não só viver de rendimentos para fazer poesia, mas também ter contato com todos os grandes nomes da literatura portuguesa daquele período.



O Palácio da Ventura - Antero de Quental


Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busca anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura…
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formusura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado…
Abri-vos, portas d’ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d’ouro, com fragor…
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão — e nada mais!

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