sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Meus oito anos

Casimiro de Abreu é o poeta do amor ingênuo. Apesar de amigo de Machado de Assis e patrono de uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras, o poeta da segunda fase do romantismo nunca escreveu sobre os amores rebuscados, falando sempre das memórias da infância e das saudades de então. Além disso, nas mentes do estudantes brasileiros, Casimiro de Abreu é de fato o poeta de 'nossos oito anos'. Quem nunca leu esse seu poema na escola? e nunca soube apreciá-lo somente mais tarde? O que fala o poema não retrata no seu sentido literal os oito anos da maioria, mas nos faz lembrar nossos oito anos, e nos   sugere paralelos, evocando nossas próprias saudades de escola.


Meus oito anos - Casimiro de Abreu


Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh ! dias de minha infância!
Oh ! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar!

Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

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