domingo, 9 de dezembro de 2012

Via Láctea

Olavo Bilac é, pode-se dizer, o poeta parnasiano por excelência. Gerações decoraram e ainda decoram seus poemas na escola. Como todo parnasianismo, sua obra é composta de sonetos na forma clássica, intensamente trabalhados até atingirem a forma perfeita. "É como o vaso que o artesão lima até à perfeição".  O soneto a seguir tem adicionalmente a beleza dos 'enjambements' em muitos dos seus versos. Quando se lê, é importante para a sonoridade que a pausa no fim do verso seja quase imperceptível e a verdadeira pausa seja no fim da frase, onde quer que ele esteja. Isso faz da poesia rica, pela estrutura complexa que lhe proporciona.



Via Láctea - Olavo Bilac



"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas".

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