quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A Rua de Rimas

O português é, como se diz, uma língua poética por natureza. Em Guilherme de Almeida, o poeta paulista tem em suas inúmeras obras poesias para e do cotidiano da primeira metade do século XX brasileiro. O poeta modernista, apesar de não ser um grande nome do período tem em suas obras toda a poesia da simplicidade. Os versos a seguir, publicados primeiramente no jornal estão entre os preferidos do autor, cuja obra mais conhecida é a Canção do Expedicionário. Figura dita simpática por quem o conheceu, foi dos grandes promotores do período ufanista da metrópole de São Paulo, a primeira metade do século XX.


A Rua de Rimas - Guilherme de Almeida


A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino
é uma rua de poeta, reta, quieta, discreta,
direita, estreita, bem feita, perfeita,
com pregões matinais de jornais, aventais nos portais, animais e varais nos quintais;
e acácias paralelas, todas elas belas, singelas, amarelas,
douradas, descabeladas, debruçadas como namoradas para as calçadas;
e um passo, de espaço a espaço, no mormaço de aço baço e lasso;
e algum piano provinciano, quotidiano, desumano,
mas brando e brando, soltando, de vez em quando,
na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala;
e, no ar de uma tarde que arde, o alarde das crianças do arrabalde;
e de noite, no ócio capadócio,
junto aos lampiões espiões, os bordões dos violões;
e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata…);
e depois o silêncio, o denso, o intenso, o imenso silêncio…
A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino
é uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer
é uma rua, como todas as ruas, com suas duas calças nuas,
correndo paralelamente, como a sorte diferente de toda gente, para a frente,
para o infinito; mas uma rua que tem escrito um nome bonito, bendito, que sempre repito
e que rima com mocidade, liberdade, tranqüilidade: RUA DA FELICIDADE…

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