sábado, 3 de novembro de 2012

Alma Minha Gentil, que te Partiste


Apesar de controverso, muitos julgam Camões o maior poeta da língua portuguesa. Embora sua imortalidade seja devida sobretudo ao seu poema épico, os Lusíadas, recebe um lugar importante em sua obra a poesia lírica. Enquanto na primeira há o otimismo com relação ao futuro e o orgulho das glórias do passado, na segunda há a melancolia e muitas vezes a saudade, exclusividade nossa. O sentimento intraduzível, o estar sozinho entre as gentes, uma das bases do tripé da alma portuguesa, aliada à coragem e à amizade.



Alma Minha Gentil, que te Partiste - Luís Vaz de Camões


Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

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